Depois de seis anos muito difíceis para a classe trabalhadora, frutos de governos que atacaram os direitos trabalhistas, o movimento sindical enfrenta ainda três tsunamis simultâneos: os efeitos da pandemia de covid-19, as fake news e a estagnação da economia. Eles produziram um cenário devastador para os sindicatos, segundo a economista Regina Coeli Moreira Camargos, professora da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, que participou, nesta quarta (26), da Oficina de Negociadores do Sinergia CUT.
O evento foi realizado nesta quarta (26), no hotel Nacional Inn Trevo, em Campinas. Por isso, segundo ela, é preciso repensar e buscar saídas para promover o enfrentamento ao capital. Com 25 anos de experiência como negociadora trabalhista, pesquisadora sobre temas relacionados à economia do trabalho, Regina lembra que a maior crise sanitária do planeta tirou os sindicalistas de suas bases, afastando-os dos trabalhadores.
Além disso, por conta da alta transmissibilidade do vírus pelo contato pessoal e pelo ar, com taxas elevadas de mortalidade, as negociações deixaram de ser presenciais e passaram a ser virtuais. “O capital fez uso da pandemia para esvaziar os processos de negociação”, afirmou a economista. “O que era uma necessidade se transformou em uma tática útil para as empresas.”
O sindicato que não se repensa permanentemente tem musculatura fraca para fazer o enfrentamento que o capital exige todos os dias
– economista Regina Coeli Moreira Camargos, do Dieese
Esse cenário virtual trouxe uma pauta enxuta, com limitação da atuação dos sindicatos. De acordo com a economista, eles ficaram reféns, em sua grande maioria, de Acordos Coletivos de Trabalho (ACTs), que não fizeram mais que ratificar o poder das patronais de aplicar a lei, com reajustes abaixo da inflação em muitos casos. A partir de agosto de 2022, as reposições começaram a melhorar, de acordo com o Diesse.
Em março deste ano, 74,1% dos 290 reajustes analisados pelo Diesse resultaram em ganhos acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE). Resultados iguais a esse índice foram observados em 21,4% dos casos e abaixo dele, em apenas 4,5%. Leia aqui estudo completo do Dieese. Ao mesmo tempo, devido à alta taxa de desemprego, alguns sindicatos não têm poder de barganha para exigir a recomposição dos salários, segundo a economista.
O fatiamento do setor com a terceirização mudou a perspectiva sobre a unidade da categoria
– professora Regina Coeli Moreira Camargos, da Escola do Dieese
Para ela, outro problema é o individualismo, que ficou ainda mais explícito na pandemia, com cada pessoa presa à sua tela de computador e apenas as suas reivindicações. Para completar esse cenário desfavorável ao movimento sindical surgiram as fake news, que buscam enfraquecer a atuação dos sindicatos e trazer desinformação digital.
Jurídico
Após a apresentação da economista Regina, a advogada do Sinergia Campinas, Tânia Tosetti, explanou sobre todas as etapas de um processo de negociação.
Confira vídeo com a economista Regina
A luta agora é por aumento de salários e direitos!