Quase metade das armas no Brasil está com registros vencidos

Brasil tem hoje quase seis milhões de armas. Flexibilização do porte, por meio de decretos no governo Bolsonaro aumentou em mais de 260% o número de cidadãos armados no país

Agência Brasil

Escrito por: Redação CUT/Texto: André Accarini | Editado por: Marize Muniz

O ataque a tiros de fuzil e granadas do ex-deputado Roberto Jefferson contra policiais federais, no último domingo (23), trouxe à tona uma realidade preocupante na sociedade brasileira. A flexibilização das regras de autorização para porte a caçadores, atiradores e colecionadores, conhecidos como CAC´s, aumentou 262% durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). De julho de 2019 a março de 2022, o número de pessoas com licença passou de 167.390 para 605.313.

E muitos CACs portam armas ilegalmente já que as autorizações estão vencidas, como é o caso do ex-deputado bolsonarista que atacou os policiais.

Hoje, quase 6 milhões de armas de fogo estão cadastradas no sistema da Polícia Federal. Quase metade (47%) estão com registro vencido e a fiscalização não funciona como deveria. Muitas das armas podem estar em posse do crime organizado.

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As armas em posse do ex-deputado são um exemplo dessa falta de fiscalização. O arsenal de Jefferson estava com registro suspenso por ele estar em prisão domiciliar, portanto ele não deveria estar portando nem armas nem munição. Além disso, o porte de granadas, ainda que de efeito moral, como alegou o ex-deputado, é proibido pelo Exército.

Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal de Minas Gerais, Rodrigo Teixeira, afirmou que somente em 2022 foram apreendidas pela PF  quase 10 mil armas nesta situação, apesar da falta de efetivo para a busca de armas irregulares.

Menos fiscalização, mais armas circulando

A cientista social Giane Silvestre, pesquisadora de pós-doutorado no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), alertou em entrevista ao Brasil de Fato para os vários riscos do acesso ampliado a armas. Ela destacou, entre outras consequências, que o trabalho das polícias fica dificultado e os agentes de segurança ficam sob risco ainda maior.

“O controle dessas armas feitas pelo Exército é muito ruim. O controle mesmo já era bastante ruim antes desses decretos, pois há vários sistemas que não se comunicam. Tem um sistema da Polícia Federal, um sistema nacional e um sistema do Exército. Cada um tem uma espécie de competência para fiscalizar. Os sistemas não são integrados, não conversam, então a fiscalização é muito mais frágil nesse contexto de facilitação”, disse Giane ao repórter Rodrigo Chagas.

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