Resistência popular

Sociedade brasileira se manifesta contra o PL do aborto

De forma espontânea, sem convocação prévia, manifestantes foram às ruas em várias cidades para protestar contra o projeto que equipara o aborto ao crime de homicídio

Paulo Pinto / Agência Brasil

Redação CUT - Texto: André Accarini e Rosely Rocha | Editado por: Walber Pinto

As reações à decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de pautar a urgência do Projeto de Lei (PL) 194/2024, chamado, entre outros nomes, de PL do Aborto e de PL da Gravidez Infantil, gerou revolta em vários setores da sociedade dado seu conteúdo que equipara o aborto de gestações com mais de 22 semanas ao crime de homicídio.

“É um movimento que marca um retrocesso alarmante nos direitos reprodutivos das mulheres brasileiras”, diz a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corsino.

Em diversas cidades, não apenas manifestantes ligadas a movimentos feministas, brasileiros e brasileiras que enxergam na tramitação do PL como uma forma de violência contra a saúde, à vida e à liberdade da mulher.

Em São Paulo, centenas de pessoas realizaram um protesto convocado pela Frente Nacional Contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto na Avenida Paulista, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na noite desta quinta-feira (13), com frases como “Criança não é mãe”, “Respeitem as mulheres” e “Fora Lira”.

 

Protestos também foram realizados no Rio de Janeiro No Rio. Uma multidão se reuniu na Cinelândia, centro da cidade. 

Em Brasília, centenas de pessoas se reuniram em frente ao Museu Nacional da República. Em entrevista ao Brasil de Fato, a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaíssa Magalhães, afirmou que a manifestação mostra que as mulheres atenderam ao chamado de diversas organizações feministas e sociais.

Eline Luz/Brasil de FatoEline Luz/Brasil de Fato

“As mulheres se solidarizaram com a urgência de colocarmos o bloco na rua para dizer não ao PL da gravidez na infância”, disse Thaíssa.

Outros atos foram realizados em Florianópolis (SC), Manaus (AM), Niterói (RJ) e Recife (PE).

“Criança não é mãe, quem estupra não é pai”

A mobilização também contou com a adesão de personalidades nas redes sociais

Sâmia Bonfim, deputada federal pelo Psol de SP, publicou em suas redes o ato da capital paulista relatando que “o ato em São Paulo foi enorme e muito diverso! As meninas e mulheres brasileiras dizem NÃO AO PL 1904! Não ao PL da Gravidez Infantil!”

A atriz Luana Piovani também foi às redes sociais mostrar indignação em relação ao projeto.

A apresentadora Angélica afirmou em seu perfil no X (ex-Twitter) que o tema deveria ser tratado como saúde pública.

Direitos Humanos

A questão que envolve a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei é um tema que envolve também os direitos humanos. Ouvida pelo Portal da CUT, a secretária nacional de Políticas Sociais e direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara, classificou o projeto como uma forma de criminalizar mulheres e crianças de “forma aviltante”.

“É uma grave violação aos direitos humanos, uma excrecência total haver um projeto desse. Viola direitos das crianças, das adolescentes, das mulheres”, afirmou.  

Ela afirmou ainda que é necessária a mobilização contra o PL. “A reação já começou ontem e é fundamental. As mulheres precisam tomar as ruas que tamanha violência não seja legalizada no país. Isso é fruto de uma bancada de pessoas que estão nem um pouco preocupadas em melhorar as condições de vida das mulheres e do povo brasileiro. Querem tornar o Brasil, que já tem índices graves de violação de direitos humanos, em uma terra onde as pessoas não terão direitos básico garantidos”, disse a dirigente.

Efeito

Com a repercussão negativa provocada pelas reações contrárias da sociedade, pela abordagem dada pela imprensa, ouvindo médicos, especialista, juristas, entre outras personalidades, o presidente da Câmara acabou voltando atrás e sinalizou que mudanças podem ser feitas no texto do PL.

Chegou a afirmar à imprensa também que a proposta não englobará casos em o aborto é hoje permitido por lei. No entanto, a bancada evangélica já mostrou resistência a eventuais mudanças.