FUTURO DO TRABALHO

Ciclo de Debates da CUT: conquistas não seriam possíveis sem luta, diz Sergio Nobre

Ao lado de lideranças sindicais, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio e a historiadora e sindicalista Graça Costa falaram sobre a importância de incidir nas mudanças do mundo do trabalho com celeridade

Roberto Parizotti

Presidente da CUT Nacional, Sergio Nobre

Carolina Servio

No último Ciclo de Debates da CUT de 2023, nesta quarta-feira (13), cujo tema foi justamente os 40 anos da central sindical, completos em agosto, e os desafios que se avizinham diante das novas configurações de trabalho, o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Sergio Nobre, enfatizou a importância da organização dos trabalhadores e trabalhadoras nas conquistas alcançadas nessas quatro décadas, lembrando que será essa força a capaz de dar conta do mundo trabalho deste tempo. 

“Nenhuma das nossas conquistas, que não foram poucas, teria sido possível sem a luta. Sem construir as nossas organizações com persistência e dedicação, sempre mirando uma vida melhor para o trabalhador”, disse Nobre. 

Na rodada desta semana, os debatedores convidados foram o sociólogo e consultor sindical Clemente Ganz Lúcio, e a historiadora, servidora municipal de Quixadá, no Ceará, secretária de Organização e Política Sindical da CUT e presidente do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Graça Costa. 

O sociólogo chamou atenção para desidratação do modelo de trabalho pautado pela organização sindical das últimas décadas. Segundo Ganz Lúcio, os modelos de contratação sem vínculo direto, como é o caso dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizados, teve com resultado uma forte redução na cobertura sindical, “isso em todo o mundo, o que, por consequência direta, criou um massa de trabalhadores à margem das convenções coletivas e desprotegidos”, afirmou. 

Para ele, agora, as lideranças sindicais devem se preocupar em participar ativamente de como a inovação tecnológica irá transformar os trabalhos e a qualidade desses trabalhos. “A tecnologia no ambiente de trabalho está vindo como uma forte intensificação da carga de trabalho, com consequências devastadoras para a saúde. É preciso considerar tudo o que essa inovação traz de vantagem e desvantagem para a classe trabalhadoras”, disse. 

A regulamentação do trabalho feito por motoristas de passageiros e entregadores do ramo dos transportes a partir de aplicativos, como Ifood e Uber, por exemplo, está, na visão de Ganz Lúcio, “no mínimo dez anos atrasada. O que estamos vendo é uma defasagem temporal entre a nossa capacidade de incidir no mundo real em relação às transformações das relações de trabalho.”

E se por um lado a regulamentação de atividades que parecem escapar à legislação atual, e muitas vezes até a própria Constituição, é fundamental para garantir os direitos trabalhistas conquistados, organizar essa massa de trabalhadores sem vínculo formal é, na vida de Graça Costa, um desafio ainda mais urgente e maior. 

“Passamos o patamar de 100 milhões de brasileiros ocupados. Mas mesmo assim, o número de brasileiros com a carteira de trabalho assinada é de pouco mais de 30 milhões. E isso não significa que esses 30 milhões estão organizados. Não estão. As novas relações de trabalho demandam de nós uma forma de entrosamento com o trabalhador muito diversa dos nossos formatos tradicionais”, disse Graça, completando que uma central com o estofo da CUT tem todas as condições de encarar esse desafio. 

Ao longo de 2023 o Ciclo de Debates CUT discutiu temas centrais para a classe trabalhadora, como o racismo, a Previdência Social e agora as novas configurações de trabalho. Todos os debates foram transmitidos ao vivo, e estão disponíveis do canal da CUT no YouTube.