Oficina de Negociação

No pós-pandemia, movimento sindical precisa se reconstruir

A afirmação é da economista Regina Coeli Moreira Camargos, da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, que dirigiu os debates da Oficina de Negociadores da Campanha Salarial 2023 do Sinergia CUT

Luiz Carlos dos Santos

Nice Bulhões

Depois de seis anos muito difíceis para a classe trabalhadora, frutos de governos que atacaram os direitos trabalhistas, o movimento sindical enfrenta ainda três tsunamis simultâneos: os efeitos da pandemia de covid-19, as fake news e a estagnação da economia. Eles produziram um cenário devastador para os sindicatos, segundo a economista Regina Coeli Moreira Camargos, professora da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, que participou, nesta quarta (26), da Oficina de Negociadores do Sinergia CUT.

O evento foi realizado nesta quarta (26), no hotel Nacional Inn Trevo, em Campinas. Por isso, segundo ela, é preciso repensar e buscar saídas para promover o enfrentamento ao capital. Com 25 anos de experiência como negociadora trabalhista, pesquisadora sobre temas relacionados à economia do trabalho, Regina lembra que a maior crise sanitária do planeta tirou os sindicalistas de suas bases, afastando-os dos trabalhadores.

Além disso, por conta da alta transmissibilidade do vírus pelo contato pessoal e pelo ar, com taxas elevadas de mortalidade, as negociações deixaram de ser presenciais e passaram a ser virtuais. “O capital fez uso da pandemia para esvaziar os processos de negociação”, afirmou a economista. “O que era uma necessidade se transformou em uma tática útil para as empresas.”

O sindicato que não se repensa permanentemente tem musculatura fraca para fazer o enfrentamento que o capital exige todos os dias

– economista Regina Coeli Moreira Camargos, do Dieese

Esse cenário virtual trouxe uma pauta enxuta, com limitação da atuação dos sindicatos. De acordo com a economista, eles ficaram reféns, em sua grande maioria, de Acordos Coletivos de Trabalho (ACTs), que não fizeram mais que ratificar o poder das patronais de aplicar a lei, com reajustes abaixo da inflação em muitos casos. A partir de agosto de 2022, as reposições começaram a melhorar, de acordo com o Diesse.

Em março deste ano, 74,1% dos 290 reajustes analisados pelo Diesse resultaram em ganhos acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE). Resultados iguais a esse índice foram observados em 21,4% dos casos e abaixo dele, em apenas 4,5%. Leia aqui estudo completo do Dieese. Ao mesmo tempo, devido à alta taxa de desemprego, alguns sindicatos não têm poder de barganha para exigir a recomposição dos salários, segundo a economista.

O fatiamento do setor com a terceirização mudou a perspectiva sobre a unidade da categoria

– professora Regina Coeli Moreira Camargos, da Escola do Dieese

Para ela, outro problema é o individualismo, que ficou ainda mais explícito na pandemia, com cada pessoa presa à sua tela de computador e apenas as suas reivindicações. Para completar esse cenário desfavorável ao movimento sindical surgiram as fake news, que buscam enfraquecer a atuação dos sindicatos e trazer desinformação digital.

Jurídico

Após a apresentação da economista Regina, a advogada do Sinergia Campinas, Tânia Tosetti, explanou sobre todas as etapas de um processo de negociação.

Confira vídeo com a economista Regina


 

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