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Réu por tentar explodir caminhão no DF na véspera do Natal foi assessor de Damares

Wellington Macedo de Souza, de 47 anos, que está foragido e é alvo de duas ordens de prisão, acabou “denunciado” pela tornozeleira eletrônica que usava por estar em prisão domiciliar desde 2021

Reprodução/Redes sociais

Edson Sardinha. Congresso em Foco | Editado por: Marize Muniz | Repost CUT

Um dos três réus acusados de planejar um atentado em Brasília na véspera do Natal, o blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza, de 47 anos, ocupou um cargo comissionado de assessor no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, entre janeiro e outubro de 2019, durante a gestão da ex-ministra Damares Alves.

Por nove meses, o blogueiro esteve lotado como assessor da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, vinculada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Wellington foi nomeado para um cargo comissionado na Diretoria de Promoção e Fortalecimento de Direitos da Criança e do Adolescente.

O blogueiro, natural de Sobral (CE), é acusado de tentar explodir uma bomba em um caminhão nas proximidades do aeroporto de Brasília no último dia 24. Câmeras de uma loja e do próprio caminhão mostram o momento em que o carro de Wellington se aproxima do veículo para que Alan Diego dos Santos Rodrigues coloque a bomba. As imagens foram divulgadas no domingo pelo Fantástico, da TV Globo.

A ideia do trio que virou réu nesse domingo (15) pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios era explodir o caminhão-tanque e atingir a rede elétrica para espalhar medo e caos na capital federal, às vésperas da posse do presidente Lula (PT). Além da dupla, também participou do plano George Washington Oliveira de Sousa, o único dos três que está preso. George Washington entregou a bomba a Alan Diego, que também está foragido. Por uma falha operacional, o artefato não explodiu.

Denunciado pela tornozeleira eletrônica

Foragido e alvo de duas ordens de prisão, Wellington acabou “denunciado” pela tornozeleira eletrônica que usava por estar em prisão domiciliar desde 2021.

O blogueiro já era procurado pela polícia desde 12 de dezembro, quando bolsonaristas radicais tentaram invadir o prédio da Polícia Federal em Brasília e incendiaram uma dezena de veículos na cidade. Imagens divulgadas pelo Fantástico mostram Wellington filmando a ação dos criminosos, enquanto usava uma tornozeleira eletrônica.

“Nós conseguimos comprovar que no dia 12 de dezembro o cearense e o outro [Alan Diego] praticaram também atos de depredação. A prisão dos dois também foi decretada. Eles têm dois mandados de prisão em aberto contra cada um deles”, disse à Globo o delegado Leonardo de Castro Cardoso, da Polícia Civil do DF.

Antes de fugir, Wellington se desvencilhou da tornozeleira eletrônica.

No início de setembro de 2021, o blogueiro teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, por incitar em suas redes sociais bolsonaristas radicais a invadirem a própria corte e o Congresso Nacional durante os atos de 7 de setembro, marcados por forte tom golpista, inclusive com a participação do então presidente Jair Bolsonaro. 

Ele foi solto um mês depois, sob alegação de que enfrentava problemas de saúde. Moraes aceitou o argumento da defesa do blogueiro de que os atos já haviam transcorrido e que, por isso, deveria passar à prisão domiciliar, com o uso da tornozeleira, sem prejuízo para as investigações.

Wellington passou a frequentar o acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército em Brasília mesmo estando em prisão domiciliar. Foi lá, segundo as investigações, que ele conheceu os outros dois réus acusados de tramarem a explosão do caminhão-tanque. Graças ao monitoramento da tornozeleira eletrônica, os policiais conseguiram constatar o envolvimento de Wellington na ação criminosa.

Candidato em prisão domiciliar

O blogueiro tem aspirações políticas e eleitorais. Por duas vezes disputou e ficou na suplência na Câmara de Vereadores em Sobral. No ano passado, lançou-se candidato a deputado federal pelo PTB de São Paulo. Com o nome de Jornalista Wellington Macedo, o candidato recebeu apenas 1.118 votos. Na lista de certidões criminais entregues por ele à Justiça eleitoral, na ocasião, não havia referência ao inquérito dos atos antidemocráticos nem à sua prisão domiciliar.

O foragido é fundador do movimento Marcha da Família Cristã pela Liberdade, que organizou manifestações em apoio a Bolsonaro em diversas cidades. Antes de virar bolsonarista, Wellington já acumulava processos em Sobral, por causa da publicação de vídeos com ataques a políticos e professores da rede pública de educação do município, que é considerado referência na área para todo o país.

No caso do atentado frustrado ao caminhão-tanque, Wellington, Alan Diego e George Washington responderão pelo crime de explosão, quando se expõe “a perigo a vida na integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos”. A pena é de três a seis anos de prisão e pagamento de multa.

No início da tarde desta segunda-feira (16), Damares se manifestou por meio de suas redes sociais sobre o assunto. A senadora eleita pelo Republicanos do Distrito Federal reconheceu que Wellington trabalhou no ministério em sua gestão, mas negou ter relação de proximidade com ele e também condenou “atos de vandalismo” e qualquer tentativa de associação entre o nome dela e as denúncias feitas contra o blogueiro.

“Repudio todas as tentativas levianas de associar minha imagem às ações dele e/ou do grupo ao qual faz parte. Que todos as denúncias sejam devidamente apuradas e que os culpados por atos ilegais sejam processados e julgados, nos termos da lei. Sempre fui uma defensora da democracia. Condeno atos de vandalismo, depredação do patrimônio público e de violência que coloque em risco a vida humana ou a sua integridade física”, afirmou.